Morar fora requer mudança. Mudança gera desconforto, tira o sono, aflora a ansiedade e, às vezes, até nos faz pensar em desistir. Afinal, sair da zona cômoda dá medo.
A primeira grande mudança, de fato, é tornar-se gente grande. Grande na coragem, grande na força, grande na capacidade de adaptação e de aprendizagem, e grande na vontade de mudar.
Deixar a zona cômoda
Quando decidimos ir embora, estamos também decidindo abandonar velhos hábitos, moldados na sociedade em que vivíamos. Temos gostos e manias que, forçadamente, deixarão de fazer parte de nós.
Deixamos de ter referências e parece que a vida zerou. Tudo é novo e desconhecido, e isso pode ser um pesadelo, sobretudo para quem sempre buscou a zona de conforto (o que, felizmente, não é meu caso).
Temos que nos despedir da família e dos amigos. Em alguns casos, será uma despedida definitiva. A vida se resumirá a duas malas, muitas lembranças e saudades.
A mudança é inevitável
Não é uma opção, é obrigação. Precisamos mudar, abandonar velhos hábitos, e criar novos. Morar fora nos obriga a conviver com outras culturas, outras religiões, outras cores, novos sabores. Percebemos que éramos tão pequeninos em nosso mundinho particular, e que o mundo é gigante e cheio do desconhecido, do inimaginável. Mas que também é mágico, a ponto de nos fazer pensar que a comida estranha do novo país é melhor que um banquete da comida habitual; que um trabalho duro, fora da nossa área, é mais edificante e rentável do que o emprego naquela vidinha medíocre.
Muda ou volta
Muitas pessoas partem para outro país porque acreditam que é o melhor a fazer para ter uma maior qualidade de vida. Mas vão e voltam. Voltam porque é mais fácil voltar do que mudar, voltam porque é muito mais fácil continuar sendo quem sempre foi, voltam porque a zona de conforto pode ser o melhor dos refúgios quando as dificuldades da mudança batem forte.
São pessoas que não aceitam que a mudança é inevitável. Mudar de país não é como mudar de cidade ou estado, requer mudança de comportamento. Muitos não conseguem. Aqui fora, os fracos não têm vez.
Mudança mental
Quando parti, percebi que ter muita coisa material não vale a pena e que ser alguém que viaja e tem uma bagagem de paisagens, pessoas, cheiros e sabores, é o que interessa nessa vida.
Eu mudei muito ao partir. Mudei costumes, gostos, crenças, valores, e até de profissão. Mudei minha visão de mundo, de vida. Vi que o mundo é muito maior do que um dia ousei imaginar, e que nele não existe espaço para quem tem medo.
Dentre minhas mudanças mais importantes: tornei-me minimalista, vegetariana, trilíngue, mais espiritualizada, mais respeitosa, mais corajosa e confiante.
A valiosa experiência
Morar fora foi, sem dúvida, a maior e mais importante experiência da minha vida. Tive momentos de dor, de dúvida, de saudade, de medo, mas também tive muitos momentos de satisfação plena, de certeza sobre minha decisão, de amor pelas novas pessoas, de encanto pelos novos lugares, de aprendizado e de orgulho de mim mesma.
Decidi não ser como a maioria e enfrentar meus medos, desafiar minha coragem, aceitar as mudanças e me permitir crescer. Não esqueci quem eu era, mas foquei em quem eu queria ser. Lutei, corri atrás dos meus objetivos, batalhei muito, mas muito mesmo. A recompensa veio e tive a certeza que ter saído da zona de conforto foi a melhor coisa que eu poderia ter feito em toda minha existência.