Culpa por deixar a família?

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Você sentiu culpa por deixar sua família quando da decisão de partir? Eu senti.

Quando decidi ir embora meus familiares me apoiaram totalmente, quase me empurraram para dentro do avião. Isso porque sabiam de era meu maior sonho e que me faria feliz. Aliás, isso me tiraria da infelicidade e estado de depressão constante que eu vivia no Brasil.

Conto em detalhes como foi esse momento no artigo Porque Decidi Sair do Brasil.

A nova vida mistura os sentimentos

Quando iniciei minha nova vida no Canadá, nem tudo era flor. Passei fases de adaptação ao clima, ao idioma, ao trabalho novo e diferente, às novas pessoas, á nova cultura (mesmo sendo melhor). Enfim, adaptação é sempre desconfortável. Mas em pouco tempo eu já via melhoras em meu humor, em minhas emoções, em meus recursos financeiros e de sobrevivência.

Mesmo trabalhando sem ter sequer uma folga em 5 meses, ainda conseguia passear um pouco, visitar lugares incríveis, pontos turísticos, tirar lindas fotos, além de comer com qualidade, experimentar comidas diferentes. Enfim, é um mundo completamente diferente, com alta qualidade de vida, mesmo para imigrantes.

Em constante contato com meus familiares, percebia que eu mudei muito, minha vida mudou muito, melhorou, evoluiu, e a deles, não. Tudo continuava na mesma no Brasil.

A culpa por viver melhor

Percebi um sentimento que, descobri depois, estava limitando meu progresso. Sem ter consciência, sentia culpa por viver melhor que minha família. Sentia culpa por viver em um país que prioriza a qualidade de vida de seus habitantes. Sentia culpa por viver em segurança e sem preocupação em sair na rua carregando uma bolsa ou falando ao celular. Sentia culpa por estar aprendendo novos idiomas, por estar conhecendo lugares incríveis e pessoas interessantes.

Sem me dar conta, estava justificando meus passeios e tentando mostrar o lado ruim e difícil da vida de imigrante. Fazia isso, inconscientemente, para evitar a culpa de viver melhor que eles.

A volta ao Brasil

A culpa não era o único sentimento que me perturbava. Saber que meus pais estavam envelhecendo, e que meus sobrinhos pequenos estavam crescendo longe de mim, que poderiam, inclusive, me esquecer, pesava muito.

Após quase 3 anos, decidi que era hora de voltar, não definitivamente, mas para visitar a família e amigos. Na convivência do retorno, à principio, aqueles sentimentos pioraram um pouco por ver que nada mudou desde que parti. Eu mudei, eu evoluí, eu conheci muitos lugares, pessoas, comidas e culturas, eles não.

Surpreendentemente, ninguém sequer perguntou como era a vida fora, o que havia de diferente. Nada! Nenhuma pergunta! B[Para eles, bastava saber que eu estava bem.

Comecei a agir de forma a mostrar um novo mundo a eles, um mundo repleto de possibilidades e qualidade de vida, que existia fora do mundo deles. Entretanto, não deu certo. Nenhum interesse. Alguns conflitos.

Entendi que a vida que escolhi, que o meu mundo, é completamente diferente do mundo deles e que eles não se interessam pelo meu. E deixo claro que não é uma questão que querer impor meus gostos, é preocupação com qualidade de vida, conforto e segurança. Também não significa que eles devessem mudar de país, apenas que poderiam querer e ter mais da vida.

Com toda certeza, essa visita ao Brasil foi a melhor decisão, desde a decisão de partir. Em primeiro lugar, matei as saudades. Em segundo, tive a certeza de que ninguém vai me esquecer, nem mesmo meus pequenos. E, principalmente, aceitei que cada pessoa tem seu livre arbítrio, faz suas escolhas e vive de acordo com elas.

Minha escolha é o melhor para minha vida, para executar o meu propósito nessa passagem terrena. Ao passo que a escolha deles, é a melhor para eles.

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